domingo, 21 de outubro de 2007

não é apenas severina...


Hoje acordei com uma fome meia alucinógena por elas...

E quando me virei para aquela parteleira um verde me chamou atenção..

Então comecei pela janela mais próxima e ela então foi passando..

Era ele o moço que fez severina se tornar eterna, mesmo odiando essa idéia;

E, lendo seus escritos fui entrando , entrando quendo vi estava ali sentada ao seu lado..

E ele dizia não ao confessionalismo, exigindo um tipo de verso que nos obriga a despertar, fazendo apelo á sua razão . Não cedendo ao automatismo do surrealismo vigente, nem se deixando raptar por qualquer estado emocional ditado por aquilo que se chama " inpiração".

Por isso jogou a flauta aos peixes surdos-mudos do mar...



DENTRO DA PERDA DA MEMÓRIA



Dentro da perda da memória

uma mulher azul estava deitada

que escondia entre os braços

desses pássaros friíssimos

que a lua sopra alta noite

nos ombros nus do retrato.

E do retrato nasciam duas flores

(dois olhos, dois seios, dois clarinetes)

que em certas horas do dia

cresciam prodigiosamente

para que as bicicletas de meu desespero

corressem sobre os cabelos.

E nas bicicletas que eram poemas

chegavam meus amigos alucinados.

Sentados em desordem aparente,

ei-los a engolir regularmente seus relógios

enquanto o hierofonte armado cavaleiro

movia inultimente seu único braço.

( João Cabral de Melo Neto)

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